terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Filhos

por João Pereira Coutinho, o jornalista:

NÃO TENHO FILHOS e tremo só de pensar.Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce não numa família mas numa pista de atletismo com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial estará a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência.
Mas a felicidade.

DEFICIÊNCIAS por Mário Quintana


'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.


'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.


'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.


'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.


'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. 'Paralítico' é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam de sua ajuda.


'Diabético' é quem não consegue ser doce.


'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:


'A amizade é um amor que nunca morre.'

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

HOJE HÁ NOITE

Das muitas coisas que fiz hoje ao cair da noite até à hora de deitar, nenhuma foi aquela que realmente queria fazer. Engraçado que quando parei para pensar nisto, decidi sentar-me e escrever, pois o que acaba de acontecer é algo que provávelmente se repete na vida de todos nós diáriamente, dia após dia, até quem sabe, mês após mês, ano após ano e chegamos às idades mais avançadas sem fazer o que realmente queriamos ter feito. ALTO! Não deixemos que constantemente isto e aquilo se atravesse na nossa frente, por muito importante ou lógico que o realizar o tal isto ou aquilo possa parecer.
Quem me dera deitar todos os dias com a satisfação de ter feito o que quis e o que era realmente importante ...

... tentemos!!!

TNCB

- sem título e sem data -

Hoje, dia em que a água trespassou a luz, limpando o éter, o ar, a terra, fazendo renascer o aroma a terra molhada. A escrita, essa é cada vez mais maquinizada, computorizada, cheia de minutas, modelos, "templates", que a mão se esquece muitas vezes de como se faz para desenhar uma letra. O corrector ortográfico fica inactivo ... e ninguém utiliza mais o envelope, mas sim o "mail" ... O que é feito do papel pautado, quadriculado, do papel de música, sei lá, daquelas coisas que se usava no tempo de criança, no século passado?

TNCB